

Devs não é uma série projetada para oferecer respostas rápidas — nem pretende facilitar a vida do espectador. Criada, escrita e dirigida por Alex Garland (Ex Machina, Aniquilação), a minissérie de ficção científica da FX (e disponível via Disney+) é uma experiência narrativa densa e contemplativa, que desafia a compreensão fácil logo de início.
Em vez de se apoiar em uma trama acelerada ou em revelações instantâneas, Devs opta por um ritmo meticulosamente lento, quase hipnótico. Os primeiros episódios parecem orbitar lentamente em torno de algo maior, invisível, pedindo que o espectador confie no processo. Essa estratégia pode parecer frustrante à primeira vista, mas é também parte essencial do método de Garland: ele constrói suas histórias mais através da atmosfera, da sugestão e da inquietação do que pela exposição direta.
A trama gira em torno de Lily Chan (Sonoya Mizuno), uma engenheira de software que começa a investigar o desaparecimento de seu namorado, Sergei (Karl Glusman), logo após ele ingressar em um setor ultrassecreto — o “Devs” — de uma poderosa empresa de tecnologia chamada Amaya. O que começa como um thriller de conspiração se desenrola lentamente para tocar em questões muito mais profundas, incluindo determinismo, livre-arbítrio, física quântica e o papel da tecnologia como mediadora da realidade.
Visualmente, Devs é um espetáculo à parte: Garland emprega uma estética fria e minimalista, pontuada por flashes de simbolismo religioso e filosófico. A trilha sonora experimental e os longos silêncios contribuem para uma sensação constante de alienação e reverência. Tudo no design da série — desde a arquitetura brutalista dos ambientes até a fotografia dourada e etérea — serve para criar uma atmosfera de mistério sagrado.
Os personagens, especialmente o recluso CEO Forest (interpretado por Nick Offerman, em um papel dramaticamente oposto à sua imagem cômica habitual), são deliberadamente ambíguos. Eles se comunicam com uma estranha solenidade, como se cada palavra estivesse carregada de um peso existencial. Essa escolha de direção enfatiza a sensação de que estamos testemunhando algo maior do que meros dramas pessoais — estamos diante de questões que tocam a própria estrutura da realidade.
Assim como em seus filmes anteriores, Garland evita oferecer explicações fáceis. Em Devs, entender não é tão importante quanto sentir — aceitar o desconforto, absorver a estranheza e contemplar as implicações perturbadoras do que é apresentado. Para aqueles dispostos a mergulhar nessa experiência, Devs oferece uma das representações mais ousadas e filosóficas da ficção científica recente.